sábado, 13 de novembro de 2010
A paixão pelo Inter
Ensaio sobre O Inter feito para um trabalho de faculdade na matéria de Jornalismo Especializado que me permitiu homenagear o meu irmão
“Glória do desporto nacional
Oh, Internacional
Que eu vivo a exaltar”
Porque afinal existe toda essa paixão acerca de algo que não vivenciamos? Ou talvez como dizem os mais céticos, a paixão explosiva diante de algo que nem sabe que a gente existe, ou não está nem aí para os nossos sentimentos? O que realmente posso dizer, é que talvez a resposta mais óbvia fosse à possibilidade de sermos guiados pelas nossas emoções, e não agirmos pela razão. O fato de simplesmente ser apaixonada por um time de futebol, não nos faz totalmente dependentes desse vício, e talvez não nos deixe menos pensante, o fato é que esse sentimento existe, e ás vezes fica tão forte que não temos nem como controlar.
Eu não escolhi torcer pelo Inter de Porto Alegre por acaso, minha história com o meu time está entrelaçada desde quando eu nasci, e talvez Nelson Silva, o dono da letra do hino do Internacional, já esperava que no interior do Paraná fosse nascer mais uma colorada e introduziu na sua letra a parte do “Eu vivo a exaltar”, pois foi exatamente isso que eu fiz minha vida inteira. Quando nasci em abril de 89, lá estava meu pai todo babão e minha orelha tão pequena foi vítima dessa paixão, lá na Policlínica São Vicente de Paula, a mais tradicional de Francisco Beltrão, lá mesmo colocaram em mim brincos vermelhos que remetiam as cores do Inter. Desde pequena vi meu pai com seu radinho exposto na sala sintonizado na rádio gaúcha, acompanhando cada lance, cada notícia, cada passo do Inter, e o tão sonhado título mundial nunca vinha, o que vinha era um título aqui e ali regional, a maior alegria então era ganhar do Grêmio, seu maior rival, lembro como se fosse hoje, o Inter dando uma surra histórica com sete gols pra cima do Grêmio em 1997, e eu lá toda eufórica pulando e gritando com a camisa do Inter, que na época ainda era patrocinado pela Coca Cola.
E foi exatamente nesse dia e neste ano que começou minha paixão pelo Inter, quando eu comemorava os gols do Inter, minhas amigas gremistas me perguntavam o que afinal eu ganhava com aquilo? O fato é que eu não me importei, e continuei gritando de felicidade como se eu estivesse ganho na Mega Sena acumulada, tamanha a minha euforia. E foi em abril de 1997 que ganhei minha primeira camisa do time, estava fazendo aniversário de oito anos e meu pai desembrulhou o presente e lá estava ela, tinindo de nova, branca e vermelha, e não a larguei mais, até hoje vejo as fitas que meu pai gravava nesta época, eu com minha camisa do Inter toda orgulhosa. E por falar nas minhas amigas gremistas, rolava ceninha de ciúme, rolava até algumas briguinhas, cheguei ao ponto uma vez de colar na porta da minha casa um cartaz onde eu dizia que era proibida a entrada de gremistas.
Até aquela época nunca tinha parado para pensar muito no que eu ganhava fazendo todo esse estardalhaço, pouco me importava naquela cabecinha de criança ingênua, só me importava mesmo em provocar as minhas amigas.
Mas irei dissertar um pouco mais sobre essa paixão. Ela era nutrida muito mesmo pelo fato da competição, na minha família, que tem um lado bem gaúcho, havia e ainda há santistas, corintianos, gremistas e meu pai e uma tia, colorados roxos. Sempre que nos reuníamos aos domingos para os churrascos em família, todos esperavam a Globo passar o jogo no domingo a tarde, como só passava um, os torcedores dos times que não estavam jogando ao vivo, ficavam na expectativa de esperar pela bolinha avisando de um gol, quando ela aparecia, esses mesmos ansiosos iam para frente da televisão e tentavam acertar os lances na esperança de ser o seu time o que acabara de fazer o gol. Sobre a paixão que cada um sentia pelo time, ninguém sabia dizer ao certo, meu tio porque gostava muito do Rivelino que jogava no Fluminense, meu pai porque gostava muito da cor vermelha do Inter, e porque também em 1979 na época em que escolheu o time, ele havia faturado a Campeonato Brasileiro de forma invicta. Minha outra tia também colorada, aprendeu com o pai e também passou a vida inteira ouvindo os jogos do Inter as margens do Rio Guaíba. Meu avô era santista por causa do Pelé, e até hoje nem meu outro tio palmeirense, nem minha avó corintiana conseguiram explicar o motivo de torcerem pra seus respectivos times, até que em 1990, uma tia minha se casou com um gremista, e o resto da história você pode imaginar. Toda vez que vamos até a casa deles em Joinvile SC, meu pai se recusa a tomar chimarrão na cuia com o símbolo do Grêmio, só aceitou uma vez, quando colocou um lenço para tapar o símbolo e evitar que suas mãos coloradas tocassem naquele símbolo azul.
Mas vamos aos fatos. Acredito que não agimos pela razão, que as nossas paixões auxiliam a nós movermos nossas vidas, mas em algumas vezes, não sabemos usar nossa paixão para o bem, como é o caso da violência no futebol. Nos últimos dez anos, 42 torcedores morreram em conflitos dentro, no entorno ou nos acessos aos estádios de futebol. Os dados foram estudados por um sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maurício Murad, baseado em dados fornecidos por jornais, revistas e rádios das principais cidades do país entre os anos de 1999 e 2008.
Neste período a média ficou em 4,2 mortes em cada ano. No período entre 2004 e 2008 o número de mortes totalizava 28, uma média de 5,6 por ano. A proporção é ainda maior se contabilizarmos somente os últimos dois anos, com 14 mortes, média de sete por ano, constatando que está cada vez maior o número de óbitos entre as torcidas de futebol.
Eu bem sei o que são esses fatos. Moro há algumas quadras do estádio do Atlético Paranaense, e sei da algazarra, dos xingamentos e das loucuras que os torcedores fazem simplesmente para ver o time, e quando ele perde agem muitas vezes como animais selvagens. Ao constatar isso, me remete ao que minha amiga me falava há anos atrás, em 1997, quando entrei de cabeça na minha paixão pelo Inter, quando pulava de satisfação pelos gols, e me vem cada dia mais forte aquela frase: O que você ganha com isso?
Mas vou continuar a respeito da paixão. Quando ela é verdadeira, não importa, quando ela nos dá prazer ou alegria, não importa o preço. Ainda vibro com o Inter, já estou me formando na faculdade e ainda tenho brilho nos olhos quando ele joga. Vi ele ser Campeão do Mundo em cima do Barcelona em 2006, exatamente no dia 17 de dezembro de 2006, que marcou totalmente a minha vida. Não consegui ver o jogo inteiro, saí de casa naquela manhã de domingo simplesmente por medo de não conseguir esse título, do medo de perder mesmo, e ficar sem fazer história e acabar a vida inteira me remoendo e querendo esse título. Meu nervosismo, o coração a mil me impediram de ver o jogo ao vivo, mas exatamente aos 37 minutos do segundo tempo, quando os gremistas da cidade já tinham acabado com todos os foguetes das mercearias que ainda estavam abertas e também torcendo pelo Barcelona, eu estava na esquina da minha casa e vi quando meu irmão gritava como eu nunca havia o visto gritar na vida, um grito de excitação, de completa felicidade, uma explosão de contentamento, que há anos ele guardava no peito, pois só eu sei o quanto ele sofria quando o Inter perdia para o Grêmio, ele chorava em frente ao rádio, não querendo nem ir para a aula, com medo das retaliações de seus colegas gremistas. Mas foi aos 37 minutos do segundo tempo,com o gol de Adriano Gabiru, que até aquele momento ninguém conhecia, ficou a frente do poderoso Barcelona que tinha estrelas como Ronaldinho Gaúcho e o português Deco, que tinham acabado de eliminar um time mexicano com quatro gols e estavam achando que ia ser mamão com açúcar derrotar um time gaúcho que nunca havia estado em uma competição mundial de clubes. O fato que naquele dia todos os gremistas do planeta baixaram a cabeça, e fiquei sabendo até de alguns que choraram de raiva, pois o mundo estava sendo pintado de vermelho, vermelho da paixão, vermelho do Inter.
Eu claro, vibrei o dia inteiro, eu e minha família quase nem acreditávamos, meu irmão chorava em frente à televisão, e seguimos até a avenida com vários colorados da pequena e pacata cidade de Realeza no Paraná, como se estivéssemos ganho na Loto Mania, como se tivéssemos sido abençoados pelo Papa, ou sabe se lá Deus, qual outro motivo para causar tamanha alegria e alvoroço.
E essa minha paixão? Que me importa saber que não ganhamos nada com aquilo? Hoje vendo tudo isso. Acho que ganhei sim, ganhei a oportunidade de poder sonhar, de vibrar, de me alegrar com a alegria de todos. A oportunidade de ver uma união tão fiel, mas tão fiel mesmo, que não importa onde o Inter esteja, ganhando ou perdendo, ela continua aqui, bem grande dentro do coração.
A paixão de escolher a cor do seu quarto na cor vermelha, de suas roupas na cor vermelha, de andar na rua e ficar cantando o hino feito uma boba, de se refugiar na televisão do vizinho para ver a partida quando a sua televisão a cabo te deixou na mão. De chegar à sua casa e ver lá o quadro exposto do Inter de 79, e saber reconhecer todos os jogadores, mesmo nunca tendo os visto jogarem, pois nem havia nascido naquela época. A paixão de todo glorioso 17 de dezembro reunir a família na sala para assistir novamente a partida do título mundial, até decorar todos os lances, somente para reviver as emoções. A alegria da paixão de ser domingo e poder entrar no site do Inter atrás de mais um jogo, para saber onde joga. A petulância de falar de paixão de alguém que viveu e vive isso em seu cotidiano, e que nunca se arrependeu de ter escolhido esse time.
Mas o destino acabou reservando uma surpresa para essa família colorada, a minha família. Quis a vida que nós fossemos premiados com essa dedicação. Meu irmão caçula que sempre amou jogar bola acabou sendo escolhido por um olheiro do Paraná Clube em 2008, quando jogava os campeonatos regionais, em um ano e meio conseguiu notoriedade e foi eleito o melhor zagueiro da competição em 2009. No meio desse ano, quando estava prestes a assinar com o Paraná Clube novamente, foi impedido por alguns empresários, inclusive um agente da FIFA, que queria colocar ele dentro do Beiro Rio, ou seja, nas categorias de base do Internacional de Porto Alegre. Imaginem a nossa alegria? E foi isso mesmo que aconteceu, em agosto de 2010, o Alisson meu irmão, foi ao Inter, essa história de paixão e lealdade teve um desfecho digno de filmes com os finais mais lindos e encantadores. O Alisson defende o Inter hoje, e apesar da pouca idade, com 16 anos, já está conseguindo espaço lá dentro. E essa paixão está arrastando muita gente, agora todos os nossos conhecidos querem ser colorados, uma parcela da família que não tinha assumido time nenhum quer ser colorada. E quem disse mesmo que essa paixão não nos trouxe nada?
Alisson Brand assina com Internacional de Porto Alegre
Escrito por Jornal Liberal Seg, 02 de Agosto de 2010 09:39
O atleta Alisson Brand, o Brandinho, 16 anos, assinou contrato com o Internacional de Porto Alegre (RS), onde irá defender as equipes de futebol da base do time gaúcho. Ele estava há dois anos nos times de base do Paraná Clube, em Curitiba, onde se destacou e foi premiado na Seleção Paranaense Juvenil do Campeonato de 2009, e foi indicado e pré-selecionado neste ano para a Seleção Brasileira sub-16.
Alisson, filho do economiário Deonildo Brand e Seloir Alievi Brand, residentes em Realeza, iniciou sua carreira ainda criança, jogando futebol e futsal no Marrecas Clube, em Francisco Beltrão. Em 2003, quando a família se mudou para Realeza, ele começou a se destacar na escolinha municipal do Real.
Em 2008, através da Escolinha Atletas do Futuro de Francisco Beltrão, um olheiro do Paraná Clube selecionou Alisson para compor as equipes da capital paranaense. No mês passado neste ano, um técnico do Internacional, o observou e avaliou, aprovando o desempenho do atleta e o contratando para o juvenil do colorado, equipe que também é seu o time do seu coração.
A família orgulhosa pelo filho, deseja todo o sucesso e declara que estão na torcida para que continue, cada vez mais, sendo jogador de destaque no mundo do futebol.
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