quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Batalha na Concorrência do Mundo do Futebol

A história de atletas que buscam a profissionalização “A vida de jogador de futebol não é tão simples como parece. Regada de mulher, fama e dinheiro como muitos pensam que é. Muitos não vêem o quanto lutamos, e o que passamos para poder um dia ser recompensados”. Essa frase do atleta Eduardo Vuick, de 17 anos, natural de Realeza, exemplifica o pensamento distorcido sobre os jogadores de futebol. A mídia a todo o momento ajuda a sustentar a falsa idéia de que jogador de futebol representa contratos milionários, estrelismo e status, na verdade, isso só maquia outro lado, o lado em que milhares de meninos deixam a sua família em diversas regiões do país em busca de viver sob os holofotes do mundo da bola, mas a realidade não é essa, ela é baseada em muita luta e fé, de quem escolheu o futebol como profissão. Conversei com muitos desses garotos, e constatei que a vida longe da família, a pressão constante no mundo da bola, o desconforto de morarem dentro dos Centros de Treinamentos (CT´s) , e a alta competição nas categorias de base tornam esses aprendizes do mundo da bola, em verdadeiros exemplos de persistência e determinação. Eduardo Vuick, citado no início da matéria, começou em 2009, quando decidiu largar o futebol de salão para se dedicar totalmente a esse sonho. No ano seguinte, foi aprovado em um clube da cidade de Cascavel. Em 2011, largou tudo e foi jogar no Duque de Caxias no Rio de Janeiro, e sofreu a primeira decepção constatando que lá não teria muitas oportunidades, voltou para casa, mas acabou dando uma nova chance para seu sonho, neste ano se mudou para Itajaí, em Santa Catarina, onde hoje joga no Clube Naútico Marcílio Dias. “Posso dizer que nessa caminhada passei por muitas dificuldades, vivi mais tristezas do que alegrias, mas só estou hoje aqui, por causa dos meus amigos, e principalmente da minha família que sempre me apoiou e me deu força”, relata Eduardo. O colega de time e amigo, Rafael Lucas Rigo, de 17 anos, também de Realeza, passou por alguns times em comum, e tem a história de dificuldades muito parecida. Seu início na carreira foi através do futsal, onde logo se interessou pelo futebol de campo, sendo aprovado pelo Coritiba Futebol Clube, na capital paranaense. “Lá dentro, tive muitas experiências, algumas boas e outras ruins, quando sai de lá , decidi parar a minha carreira e estudar”. Mas a vida longe dos gramados só fez com que Rafael tivesse saudade do futebol, foi então que tomou a decisão de largar a faculdade já iniciada, e chegar ao Rio de Janeiro para também tentar carreira no Duque de Caxias. “Contei com o apoio dos meus pais e dos meus amigos que não me deixaram desistir”. Hoje Rafael também é colega de Eduardo no Clube Naútico Marcílio Dias, e tem certeza que se dedicando a se esforçando irá superar qualquer barreira. O zagueiro predestinado Com o atleta Alisson Brand, de 18 anos, natural de Francisco Beltrão, tudo aconteceu de repente, Alisson sempre havia sido apaixonado pelo futebol. Atuou no futebol de salão ainda em Francisco Beltrão, se mudou com a família para Realeza, e continuou jogando futebol nos campeonatos da região, quando em 2008, em um desses jogos, um olheiro do Paraná Clube o chamou para fazer alguns testes, onde posteriormente foi aprovado em um peneirão com outros 30 atletas, ficando alojado por duas semanas no Colégio Militar do Paraná. Alisson passou por inúmeras dificuldades, com 14 anos já morava em um alojamento do Paraná Clube em um bairro de periferia de Curitiba. “Tínhamos que trancar todos os nossos pertences em armários, pois éramos roubados, nosso ônibus era apedrejado quando chegávamos ao CT vindo da escola, muitas vezes não saíamos com medo que alguém nos machucasse”. Mas todo o esforço foi recompensado, Alisson logo ganhou notoriedade, sendo eleito o melhor zagueiro do paranaense juvenil em 2009, indicado por jornalistas esportivos, e também pré-selecionado para a seleção brasileira juvenil no mesmo ano. Os frutos não pararam por aí, Alisson foi chamado por um agente da Fifa, que hoje é seu empresário, para ser integrante da categoria de base do Internacional de Porto Alegre. “Muitos pensam que nossa vida no futebol é fácil, mas na verdade temos que matar um leão por dia, tive que lutar por tudo que conquistei, sempre senti muitas saudades da minha família”. A saudade é tanta que o atleta liga em casa só para ouvir a voz dos pais, para assim conquistar mais coragem e confiança. Alisson também perdeu muitos colegas no futebol, ele conta que fazia amizades, mas logo cada um tomava seu rumo, sendo muitos dispensados. “Muitos desistem por falta de oportunidades, não agüentam a pressão, e a saudade de casa”, revela. Depois de quase dois anos no colorado, com vários títulos, entre eles a Copa Santiago, e Capeonato da Federação Gaúcha Sub 17, Alisson que sempre foi torcedor do Inter, passou a integrar o time de base do Grêmio Futebol Porto Alegrense. Coisas que só o futebol pode proporcionar. Primos e o futebol Aislan Lotici foi o atleta realezense que mais ganhou notoriedade até agora. Com 24 anos, hoje joga em um time suíço, mas seu inicio no mundo da bola contou com muita perseverança. Logo aos 12 anos, quando foi aprovado em um peneirão em Santa Izabel do Oeste, foi morar no Centro de Treinamento Oscar Bernardi em Águas de Lindóia no estado de São Paulo, conseqüentemente foi integrado a categoria de base do clube paulista São Paulo, onde se profissionalizou. Lá disputou inúmeros campeonatos, como a Taça São Paulo. “Sempre foi o capitão, sempre foi antecipado nas categorias de base por causa da força física”, contou a reportagem o tio, Alencar Lotici. Zagueiro, Aislan chegou a jogar no São Paulo como profissional durante o campeonato paulista de 2008, ganhando notoriedade e ajudando o São Paulo a ganhar o título do Campeão Brasileiro no mesmo ano de sua estréia. Mas aos 22 anos, foi jogar no Guarani de Campinas, no interior de São Paulo, para pegar mais experiência em um time brasileiro, depois de receber propostas de times estrangeiros como Arsenal, Milan e Liverpool. Em 2012 foi transferido para o FC Sion, da Suiça. O tio Alencar Lotici ainda contou que Aislan sentia muita saudade da família. “Ele era muito garoto quando saiu daqui, tinha vezes que até nós sentíamos vontade de tirar ele de lá, não era fácil para ele”. Aislan contou com o apoio da mãe, Margarete Lotici, que deixou o emprego de enfermeira para morar junto do filho. “O apoio da família é muito importante, eles são muitos novos para enfrentar tanta pressão nesse mundo”, constata Alencar. Todo o apoio de sua família continuou dando apenas resultados positivos, seu primo Christian Pavlak , 21 anos, também se interessou pelo mundo da bola, começando com 13 anos, hoje também leva o futebol como uma profissão. Depois de um tempo jogando no Santa Ritense de Minas Gerais, e uma lesão que o tirou dos gramados por um tempo, Christian considera o futebol na sua vida muito importante."O futebol pra mim é tudo, é a minha vida, sempre dou o melhor de mim em campo, quero muito jogar em um time grande para ajudar a minha família”. Hoje ele ganhou uma oportunidade de também jogar na Suiça. A avó dos atletas, Maria Fruet Lotici, conta que sua família sempre foi muito ligada no futebol, seus filhos sempre jogaram e apoiaram campeonatos no interior. “Como avó sempre torço e rezo muito pelos meus netos, que eles conquistem tudo o que desejam”.