quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A honestidade


Lourença Paula da Cunha, uma mulher de 55 anos, catadora de materiais recicláveis, encontrou pacotes de lixo com a quantia de cerca de R$ 40 mil em um supermercado de Penápolis, interior de São Paulo. Ela devolveu o dinheiro ao dono do estabelecimento comercial, que calculou a quantia de dinheiro que havia nas sacolas. Ela contou que quando chegou em casa para separar o material que havia recolhido, se espantou ao ver tantas notas de R$ 50, além de vários cheques pré-datados e até dólares.Lourença disse que achou que o dinheiro fosse de mentira. Mas, quando descobriu que o dinheiro era real, se lembrou de onde havia retirado as sacolas, voltou para o supermercado e devolveu toda a quantia. Ela acabou recebendo R$ 200 de recompensa. A catadora mora em uma casa de cinco cômodos com o marido, dois filhos e quatro netos. Há cinco anos, Lourença é voluntária no Fundo Social de Solidariedade de Penápolis.
Notícias como esta, que ocorreu em fevereiro deste ano, povoam jornais e revistas quase que cotidianamente. São pessoas humildes, trabalhadores que encontram quantias muito superiores ao que podem ganhar com o esforço de seu trabalho por mês, mas que optam por devolver o que não é seu. O que deveria ser normal, acaba sendo manchete para comoção nacional, pois com tanta injustiça e desonestidade, fatos como esse acabam virando exemplo, e as pessoas envolvidas viram super-heróis.
Em meio a tanta corrupção, tanta impunidade, pergunto: E nós, será que cumprimos o nosso papel com dignidade? Damos bons exemplos? Segundo pesquisa realizada pela revista Vida Simples neste ano, algumas pessoas costumam não exercer sua cidadania. Elas mentem e enganam quase que diariamente. Sentem prazer em passar a perna nos outros, e tirar vantagem em tudo. Costumam também maquiar esse tipo de comportamento afirmando que é tudo no “jeitinho brasileiro”.
Segundo estudo publicado na revista Istoé, colar dentro de sala de aula, já é encarado com naturalidade. “Colar” em provas escolares, quando se é criança ou adolescente, é considerado pela psiquiatria um forte indicativo de possível transtorno de conduta na juventude, e transtorno da personalidade antissocial na vida adulta. Prova disso é que a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) abrem capítulos específicos para a “cola”. Quem cola tem quatro vezes mais chances de enganar o chefe quando se tornar um profissional, três vezes mais chances de não devolver um eventual troco a mais na compra de um produto, além de apresentar forte tendência para mentiras e burla de dados e informações.
A justiça brasileira, a que deveria dar os grandes exemplos, continua a promover injustiças. Dos 130 processos distribuídos no STF nos últimos 19 anos, apenas seis foram julgados e absolvidos. Outros 46 foram remetidos à instância inferior, 13 prescreveram e 52 continuam em tramitação. No STJ, dos 483 processos recebidos de 1989 até junho de 2007, 11 foram absolvidos, cinco foram condenados e 71 prescreveram. Foram remetidas à instância inferior 126 ações, e ao STF, 10 processos. Ainda há 81 ações em tramitação.
A desonestidade existe em muitos setores. Não é só na política!O Brasil recebeu a nota miníma de 3,7 em honestidade no ano passado entre sua população. Muitos apontam o dedo para Brasília, mas não se conscientizam que cumprir seu papel mesmo que pequeno, impede que ela continue se expandindo. Não sabem que a corrupção está refletindo o que acontece na sociedade. Não podemos deixar que a honestidade seja apenas privilégio de poucos! Devemos parar de aceitar de vez, que desvios de dinheiro, trapaças e mentiras sejam normais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Criminalidade


Após meses de investigação conjunta com a Polícia Federal, duas quadrilhas formadas por jovens da zona sul do Rio de Janeiro foram desmontadas. Dezenas de frequentadores de academias, surfistas e moradores de prédios da área mais valorizada da cidade foram presos. Os criminosos tinham dinheiro, frequentavam restaurantes e danceterias e vinham de famílias ricas.
De acordo com especialistas, a ação que ocorreu em fevereiro deste ano nos aponta um dado alarmante que está crescendo no Brasil. A classe média e alta também está no crime. A participação de garotos endinheirados em atividades como tráfico, roubos e sequestro é um fenômeno que não é só dos cariocas.
Os dados da criminalidade no Brasil, também desmistificam uma grande injustiça. Um preconceito que hoje não tem mais razão de ser. O fato de que a criminalidade sempre esteve ligada à pobreza.
Segundo a última pesquisa da Fundação Casa em São Paulo, 28% dos internados da Febem são oriundos da classe média. Pessoas que tinham dinheiro, carro, e o pior, a oportunidade que tanto falta aos moradores de baixa renda.
Criminalidade e pobreza não andam juntas. Há trabalhadores honestos nas comunidades pobres. A desonestidade não se restringe a guetos. Os tiros e os bandidos não se restringem as maiores favelas. Há bandidos em suas casas confortáveis e frequentando as melhores universidades do país.
Durante muito tempo, houve no Brasil apologia ao uso de drogas em músicas e principalmente na televisão. Era o mocinho sedutor que não largava o cigarro, e hoje já são até afastados das novelas por não aguentarem mais. Os formadores de opinião, aqueles que sempre estão atrás das telas, que deveriam dar o exemplo, chegam a promover passeatas contra as drogas e a favor da paz, mas ninguém vê um problema ainda pior. Quem financia os traficantes são as pessoas que possuem dinheiro, são elas que compram e continuam a financiar.
A criação de condomínios fechados protegidos por grades e câmeras, está longe de ser a solução para o problema de segurança. Isolar as favelas, e atribuir-lhes a responsabilidade pelo crescimento do império do crime, é ainda pior.
Vamos continuar julgando pobre como criminoso, e continuar alimentando esse apartheid social alimentado pelo preconceito?